O projeto Conexão Povos da Floresta tem se destacado como uma poderosa ferramenta de inclusão digital e empoderamento para mais de mil comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas na Amazônia. A iniciativa, que alcançou essa marca em agosto de 2024, busca transformar a realidade dessas comunidades por meio da conectividade, promovendo não apenas o acesso à internet, mas também a segurança e o desenvolvimento social sustentável.
Entre as comunidades beneficiadas está a terra quilombola Vila São José do Gurupi, no Pará, onde a chegada da internet trouxe novas oportunidades de estudo e trabalho. Thaís Ribeiro, assistente social da comunidade, destaca o impacto positivo do projeto: “Estão surgindo novas oportunidades que eu não tive para estudar, para fazer um curso técnico. Está sendo muito positivo. É um projeto maravilhoso para mim e para a comunidade também. Com o projeto, a gente só tem a crescer”, afirmou Thaís em entrevista à Agência Brasil.
Outro exemplo significativo é a Aldeia Extrema, na Terra Indígena Mamoadate, no Acre. Alberico Manchineri, uma liderança indígena local, relata que os alunos agora podem estudar à distância, completando o ensino médio e cursos técnicos, como enfermagem e informática. Ele também enfatiza como a conectividade está levando não apenas fiscalização e saúde, mas também conhecimento e tecnologia às comunidades. “Os barcos de alumínio estão não só levando fiscalização para nossos parentes isolados, mas também levando saúde. E não só isso, mas também o conhecimento da própria tecnologia”, disse Alberico.
Cada comunidade beneficiada pelo Conexão Povos da Floresta recebe um kit de conectividade que inclui um roteador de alta capacidade, uma antena de internet banda larga via satélite, celular e computador. Para aquelas que não possuem acesso a uma fonte estável de energia, também é fornecido um kit de energia solar, composto por placas fotovoltaicas e um sistema de baterias de longa duração, que garante o funcionamento da rede por 24 horas diárias.
O projeto foi criado em 2022 e implementado a partir de janeiro de 2023, liderado por uma coalizão que inclui a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS). A iniciativa conta ainda com o apoio de mais de 30 organizações da sociedade civil, instituições e empresas. A meta é ambiciosa: conectar 4.537 comunidades em territórios protegidos da Amazônia Legal até 2025.
Esses territórios são considerados guardiões da floresta, responsáveis por preservar cerca de um terço das florestas conservadas do Brasil, segundo o Instituto Socioambiental (ISA). Os dados mostram que essas comunidades protegem 42,3% da vegetação nativa, desempenhando um papel crucial na conservação ambiental.
O Conexão Povos da Floresta vai além de simplesmente fornecer acesso à internet. A secretária-executiva do projeto, Juliana Dib Rezende, explica que o objetivo é trazer uma “conectividade significativa”, que ultrapasse o simples ato de se conectar e contribua para o desenvolvimento e autonomia das comunidades. “A gente estrutura essa rede para trazer a consciência e dar a conectividade significativa, que é a tecnologia para além de um ponto de conexão. Todas as tecnologias que a gente usa e traz para o contexto deste projeto visam mostrar como utilizar essa tecnologia para que ela seja apropriada para conhecimento dos povos da floresta para desenvolverem o que vai fazer mais sentido no desenvolvimento e autonomia dos próprios territórios”, afirmou Juliana.
O projeto também foca no empoderamento digital das comunidades, proporcionando ferramentas e soluções que promovam o uso consciente e coletivo da conectividade. Este aspecto é fundamental para garantir que a tecnologia sirva aos principais pilares das comunidades: saúde, educação, proteção territorial, empreendedorismo, cultura e ancestralidade. Juliana ressalta que o projeto busca conectar todos os povos da floresta em uma rede coesa, reconhecendo-os como os principais guardiões da floresta.
O Conexão Povos da Floresta é sustentado por uma robusta rede de parcerias, incluindo investimentos privados de empresas como Fundo Vale, Bradesco, Itaú e Azul, além de apoios financeiros de organizações sociais como o Instituto Clima e Sociedade (ICS) e o Instituto Arapyaú. O governo do Reino Unido também contribui com aportes financeiros.
Desde a fase-piloto, iniciada em março de 2023 na Terra Indígena Yanomami, o projeto tem ampliado seu alcance. A mais recente instalação ocorreu na comunidade Serafina, em Curralinho (PA), na Reserva Extrativista (Resex) Terra Grande-Pracuúba. Até o momento, mais de 27 mil usuários estão cadastrados, beneficiando diretamente cerca de 81 mil pessoas.
A longo prazo, o projeto pretende garantir a perenidade da conectividade nas comunidades, integrando-se com políticas públicas e mantendo parcerias estratégicas com empresas e instituições públicas e privadas. A responsabilidade pelo uso da internet e o desenvolvimento da autonomia na gestão dessa conectividade são fundamentais para que a tecnologia seja uma verdadeira ferramenta de transformação social.
O Conexão Povos da Floresta está abrindo caminhos para que as comunidades da Amazônia se conectem ao mundo de forma sustentável e significativa, garantindo que a tecnologia seja um aliado na preservação da floresta e no fortalecimento das culturas tradicionais.
Fonte: Agência Brasil