A acessibilidade, tema central quando se fala sobre os desafios enfrentados por pessoas com deficiência, é um dos maiores legados que um megaevento esportivo, como os Jogos Paralímpicos, pode trazer para uma cidade. A palavra-chave de foco neste contexto é acessibilidade. No caso de Paris, cidade-sede da Paralimpíada de 2024, apesar de alguns avanços notáveis, o acesso a espaços públicos ainda apresenta desafios substanciais, especialmente no que diz respeito ao transporte e à infraestrutura urbana.
A capital francesa abriga cerca de 185 mil pessoas com deficiência. De acordo com a Prefeitura de Paris, há três anos, apenas metade dos pontos de ônibus da cidade eram acessíveis. Hoje, essa realidade mudou: 59 das 61 linhas de ônibus municipais foram adaptadas, com mais de 70% dos pontos considerados acessíveis. Para alcançar esses números, o governo local investiu cerca de 22 milhões de euros (R$ 136 milhões) em melhorias, focando em acessibilidade e inclusão social.
Além das linhas de ônibus, um dos principais projetos da cidade foi a instalação de módulos sonoros em aproximadamente 2.500 semáforos, destinados a facilitar a travessia de pessoas com deficiência visual. O objetivo da Prefeitura é expandir esse número para 10.400 semáforos adaptados. Esses módulos podem ser ativados tanto por um controle remoto, distribuído gratuitamente, quanto por um botão disponível nos próprios semáforos, proporcionando mais segurança nas vias da cidade.
No setor educacional, a Prefeitura de Paris também se comprometeu a garantir acessibilidade. A meta é que haja ao menos uma escola adaptada a cada 15 minutos de caminhada para os 12 mil alunos com deficiência que vivem na capital. Até 2026, o município planeja disponibilizar mais de 240 mil unidades escolares acessíveis, com a intenção de concluir o projeto até 2030.
Outro destaque dos preparativos para os Jogos Paralímpicos é a adaptação dos imóveis públicos. Até o ano que vem, a expectativa é que 90% dos prédios públicos sejam acessíveis. No entanto, em 2022, apenas 45% atendiam a esse requisito. Um exemplo de melhoria é a reforma de seis instalações esportivas em Paris, entre elas a Piscina Georges Vallerey, que sediou as competições de natação nos Jogos Olímpicos de 1924. Reformas incluíram a instalação de pisos táteis e rampas, além de uma sala para cães-guia.
Apesar dessas melhorias, o sistema de metrô da cidade ainda representa um grande gargalo no que tange à acessibilidade. Com mais de 100 anos de existência e transportando cerca de quatro milhões de pessoas por dia, o metrô parisiense possui apenas 29 das mais de 300 estações adaptadas para pessoas com mobilidade reduzida. Somente a linha 14, a mais recente, é totalmente acessível. A falta de elevadores e escadas longas são obstáculos para cadeirantes, e em algumas linhas mais antigas, até abrir as portas dos vagões pode ser um desafio para quem tem limitações motoras.
Uma lei francesa de 2005 determinava que o transporte público do país fosse totalmente acessível até 2015. Entretanto, o metrô de Paris foi uma exceção, devido a limitações técnicas e questões relacionadas à preservação do patrimônio arquitetônico. Recentemente, a presidente do Conselho Regional da Ilha de França, Valérie Pécresse, propôs um projeto para tornar todo o sistema metroviário acessível. A estimativa é que as obras custem cerca de 20 bilhões de euros (R$ 120 bilhões) e levem 20 anos para serem concluídas.
O exemplo de Barcelona, que sediou os Jogos Paralímpicos em 1992, é frequentemente citado como um modelo de transformação acessível. Após o megaevento, a cidade catalã implantou um plano que adaptou todas as calçadas e praças para pessoas com deficiência. Atualmente, quase 100% das estações de metrô de Barcelona são acessíveis. Essa transformação foi retratada em um documentário produzido pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC), tornando-se uma referência global.
Para Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, os Jogos de Paris trazem uma oportunidade de mudança: “Quando comparamos Paris em 2017 com 2024, houve um crescimento incrível na acessibilidade. Paris entendeu o desafio e a oportunidade. Teremos legado no transporte, na educação e, mais importante, na percepção da sociedade sobre as pessoas com deficiência. A Paralimpíada é o evento mais transformador do mundo”.
A cidade de Paris, com seus desafios e avanços, está no centro das atenções globais. Com os Jogos Paralímpicos de 2024, a expectativa é que o foco na acessibilidade não se limite às instalações temporárias do evento, mas que se traduza em mudanças duradouras para as futuras gerações. Contudo, o caminho ainda é longo, e as demandas por uma infraestrutura verdadeiramente inclusiva permanecem.
Fonte: Agência Brasil