O Congresso Nacional do Samba (Conasamba) encerrou nesse domingo (15), em Florianópolis (SC), sua sexta edição com uma mensagem clara: as escolas de samba são mais do que eventos de carnaval; elas são espaços de preservação cultural, inclusão e desenvolvimento comunitário. Com mais de 600 participantes inscritos, o evento foi organizado pela Federação Nacional das Escolas de Samba (Fenasamba) em parceria com a Liga das Escolas de Samba de Florianópolis (Liesf), e contou com o patrocínio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
O Conasamba teve como foco principal o debate sobre o futuro das escolas de samba, equilibrando inovações tecnológicas e estéticas com a preservação de suas raízes e ancestralidade, que fazem do carnaval uma das maiores expressões culturais do Brasil. Segundo os organizadores, o congresso reforçou o compromisso das escolas de samba com suas comunidades, que não se limitam ao espetáculo anual dos desfiles.
A palavra-chave de foco, “escolas de samba”, aparece como o pilar central dessa discussão. Moacyr de Oliveira Filho, secretário-geral da Fenasamba, destacou que as escolas de samba são “organismos vivos” que funcionam o ano inteiro, oferecendo oportunidades de lazer, profissionalização e trabalho para as comunidades. “O desfile é apenas uma consequência do trabalho contínuo que as escolas desenvolvem ao longo dos 365 dias do ano”, afirmou Moa, como é conhecido.
O carnaval brasileiro, além de ser um símbolo cultural, é também uma potência econômica. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o carnaval movimentou aproximadamente R$ 9 bilhões em 2024, gerando mais de 66 mil empregos temporários apenas nos setores de turismo e hospedagem. Esse impacto reforça a importância de políticas públicas voltadas para a profissionalização e fortalecimento das entidades carnavalescas.
Durante o Conasamba, foi ressaltado que as escolas de samba desempenham um papel crucial na economia criativa do país. Ao manterem viva essa tradição cultural, elas também geram emprego e renda, promovendo inclusão social e fomentando o turismo.
No sábado (14), os participantes do Conasamba se reuniram com o secretário-executivo do Ministério da Cultura (MinC), Márcio Tavares, que destacou a importância da representatividade no evento. “Temos ligas de escolas de samba de todas as regiões do Brasil aqui presentes”, afirmou Tavares, sublinhando o compromisso do governo federal com o fortalecimento das políticas públicas voltadas para o carnaval.
O Ministério da Cultura possui um grupo de trabalho (GT) que envolve organizadores de carnaval de diversos estados e gêneros musicais, além do samba. Tavares explicou que o objetivo é criar políticas estruturadas que ofereçam alternativas para fortalecer o carnaval, com o apoio de parcerias público-privadas e mecanismos de financiamento. “A Fenasamba tem demandas importantes que estão sendo discutidas nesse GT”, disse o secretário.
Essa foi a primeira vez, desde 2018, que um representante de alto escalão do MinC esteve em Florianópolis, fato que foi comemorado pelos organizadores do evento. A visita marca um compromisso do governo federal com o fortalecimento das políticas culturais em Santa Catarina, ressaltando a relevância do carnaval para a economia local.
Mais de 40 conferencistas participaram do congresso, entre eles grandes nomes do carnaval, como o carnavalesco e comentarista Milton Cunha, os jornalistas Aydano Motta e Fabio Fabato, os mestres do samba Sombra e Macaco Branco, e a renomada porta-bandeira Selminha Sorriso. Ao longo do evento, foram realizadas palestras e oficinas de capacitação, com o objetivo de preparar os participantes para os desafios do futuro, especialmente na gestão e organização das escolas de samba.
Os participantes que concluíram as oficinas receberam certificados emitidos pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), que contribuiu para a capacitação técnica e profissional dos congressistas.
O evento culminou com a redação da Carta de Florianópolis, na qual as entidades carnavalescas reafirmaram seu compromisso com a defesa das escolas de samba e com o fortalecimento do carnaval como uma manifestação cultural autêntica e inclusiva. A carta destaca a necessidade de políticas públicas permanentes que garantam a realização dos desfiles e, principalmente, das atividades comunitárias e projetos que sustentam as escolas ao longo do ano.
Um dos trechos da carta reafirma que “a escola de samba desfila porque existe, não existe para desfilar”, ressaltando o caráter comunitário, participativo e sustentável dessas instituições. A Fenasamba, que representa entidades carnavalescas de todo o país, sublinhou a importância de buscar mecanismos específicos que atendam às diferentes realidades do carnaval em cada estado, com destaque para os carnavais de resistência e preservação cultural.
A mensagem final da carta, inspirada em um provérbio africano, resume o espírito do evento: “O rio que se afasta da sua fonte, seca”. As escolas de samba, enquanto fontes de cultura, devem manter viva sua conexão com as raízes e tradições que as sustentam, ao mesmo tempo em que inovam e se adaptam às demandas do mundo contemporâneo.
O Congresso Nacional do Samba de 2024 consolidou-se como um espaço de debate, celebração e compromisso com o futuro das escolas de samba, reafirmando seu papel fundamental na vida das comunidades e na cultura popular brasileira.
Fonte: Agência Brasil