O bairro do Morumbi, hoje conhecido por ser uma das áreas mais nobres e urbanizadas de São Paulo, já foi uma região rural, marcada por chácaras, granjas e ruas de terra. Nos anos 1940, a infraestrutura era limitada, com luz elétrica e asfalto chegando apenas nos anos 1950. Esse retrato do Morumbi antigo foi capturado nas obras de Francisco Rebolo, renomado artista brasileiro e um dos primeiros moradores do bairro, e será exibido na exposição Rebolo e o Morumbi: Conectados pela Natureza, na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano.
A paisagem do Morumbi sempre foi uma fonte de inspiração para Rebolo, que, vivendo na região, pôde explorar os tons de verde, os lagos e a tranquilidade que o bairro proporcionava. Essas nuances naturais são o foco das 35 pinturas selecionadas para a exposição, que cobre um período de 40 anos de produção artística, entre as décadas de 1940 e 1980.
A palavra-chave de foco, “paisagem do Morumbi”, norteia as obras de Rebolo, que testemunhou e retratou a transformação da região. No início dos anos 1940, o Morumbi ainda não era um bairro residencial consolidado e era dominado por áreas verdes, silêncio e uma vida quase rural no meio da cidade que começava a crescer. De acordo com Lisbeth Rebolo, filha do artista e professora emérita da Universidade de São Paulo (USP), o Morumbi daquela época era caracterizado pelo contato direto com a natureza, algo que Rebolo capturou em diversas de suas obras. “Muito verde, cheirinho de mato, burburinho das árvores ao vento”, lembra Lisbeth.
Esse contexto paisagístico foi essencial para a produção artística de Rebolo, que, como um dos primeiros moradores do bairro, retratou a transição de uma São Paulo ainda rural para uma metrópole em constante expansão. Marcelo Guarnieri, galerista e curador da exposição, destaca a importância da natureza nas obras de Rebolo: “Ele explorava as diferentes nuances de verde e outras cores que a paisagem oferecia, sempre com a sensibilidade de quem observava essas mudanças de perto”, comenta.
Francisco Rebolo é amplamente reconhecido como um dos maiores paisagistas da pintura brasileira, com uma vasta produção que inclui mais de 3 mil pinturas, além de centenas de desenhos, gravuras e retratos. Suas obras fazem parte de importantes acervos culturais, como o Museu de Arte de São Paulo (MASP) e outras coleções públicas e particulares em todo o país. A exposição no Morumbi resgata uma parte significativa de sua produção, focada na transformação urbana e nas paisagens que se mesclavam com o crescimento da cidade.
Segundo Sergio Rebollo, neto do artista e presidente do Instituto Rebolo, o trabalho do avô não se limitava apenas à natureza. “Ele tratava do tema ambiental, da preservação e do respeito ao meio ambiente muito antes de esse assunto ganhar o destaque global que tem hoje. E além disso, ele também retratava personagens do cotidiano, sempre com uma visão de equidade e respeito à figura humana”, explica.
Essas figuras aparecem com frequência nas paisagens de Rebolo, seja o trabalhador rural, o operário ou o imigrante, em um diálogo constante com o contexto social e político da época. A perspectiva de Rebolo dialogava com as correntes artísticas sociais dos anos 1930 e 1940, refletindo as condições de trabalho e as mudanças econômicas do Brasil.
A exposição faz parte das comemorações dos 50 anos da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, instituição que também tem uma conexão histórica com o bairro do Morumbi. Segundo Eduardo Monteiro, diretor cultural da Fundação, a mostra é uma oportunidade única de traçar um paralelo entre a trajetória de Rebolo e a história do bairro e da fundação. “Oscar Americano, fundador da instituição, foi responsável pelo planejamento e urbanização do Morumbi nas décadas de 1940 e 1950. Rebolo, ao mesmo tempo, estava retratando essa paisagem em sua arte”, conta Monteiro.
Além das pinturas, a exposição incluirá fotografias de arquivo, publicações e objetos que fizeram parte do ateliê de Rebolo, oferecendo ao público uma visão mais ampla de seu processo criativo e da relevância histórica de sua obra.
A mostra Rebolo e o Morumbi: Conectados pela Natureza ficará em cartaz até o dia 14 de novembro e promete ser um marco nas comemorações da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, reunindo uma parte significativa do legado de Rebolo e celebrando a relação entre arte, história e paisagem.
Fonte: Agência Brasil