Itamar Vieira Junior, escritor baiano e autor do aclamado Torto Arado, celebra uma marca impressionante: 1 milhão de exemplares vendidos de suas obras no Brasil, um feito raro para um escritor nacional contemporâneo. Para ele, essa conquista desmistifica a ideia de que o brasileiro não é interessado em literatura e demonstra que a busca por histórias que falam do Brasil, de suas culturas e realidades, é uma constante. “A tese de que o brasileiro não se interessa por livros ou leituras é um mito,” afirmou em entrevista à Agência Brasil, dias antes de sua participação na Festa Literária Internacional de Maricá (Flim), na região metropolitana do Rio, que vai até 10 de novembro.
O autor observa que o crescente interesse do público brasileiro por feiras e eventos literários demonstra o valor que a literatura nacional tem entre os leitores. “A participação do público em feiras literárias vem crescendo, e isso mostra o interesse do brasileiro pela leitura, pelo encontro com o autor, o que desmente a ideia de desinteresse por livros,” pontua. Itamar destaca que esses eventos são essenciais, especialmente em cidades menores, onde muitas vezes não há livrarias nem bibliotecas. Para ele, a promoção da leitura em eventos como a Flim é um passo importante para a inclusão e ampliação do acesso à cultura literária.
Com personagens próximos da realidade dos brasileiros, Itamar vê a literatura como um reflexo das experiências e identidades culturais do país. “A gente só precisa falar da gente mesmo, olhar para nós mesmos. Acho que é dessa maneira que vamos conquistar mais leitores,” diz o autor, que já prepara um novo romance para dar continuidade ao que ele chama de ciclo iniciado com Torto Arado e seguido por Salvar o Fogo.
Ele sublinha que uma das razões para o crescente interesse pela literatura brasileira é a diversidade de autores e temas que têm surgido nos últimos anos. “A literatura brasileira mudou, tornando-se mais diversa, com a publicação de obras de autores de diferentes origens e regiões. Pessoas do Nordeste, negros, indígenas estão ganhando espaço. Essa diversidade tem renovado o interesse dos leitores, que se veem representados nas histórias,” afirma Itamar.
Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que mais de 50% da população brasileira se identifica como negra (preta e parda), o que, segundo o autor, demonstra a importância de que essas pessoas possam se ver nas narrativas nacionais. Para ele, a literatura precisa retratar as dores, os desafios, mas também as esperanças dos brasileiros, permitindo que leitores se sintam parte de um universo que lhes é familiar.
Durante a Flim deste ano, a Prefeitura de Maricá lançou o projeto Mumbuca Literária, uma iniciativa que destina 200 mumbucas (moeda social da cidade) para alunos e participantes do Programa Passaporte Universitário adquirirem livros. O incentivo busca diminuir as desigualdades de acesso à leitura e ampliar o contato dos jovens com a literatura. Para Itamar, essa é uma ação exemplar, que ele acredita ser crucial para formar uma geração que valorize e compreenda a importância da leitura. “O Brasil é um país desigual, e muitos não têm condições financeiras para comprar livros. Qualquer medida que busque reduzir essa desigualdade é essencial,” avalia o autor, que já viu ações semelhantes em outras feiras literárias, como a Bienal de São Paulo.
Esse incentivo social possibilita que jovens e crianças possam escolher e levar livros para casa, construindo uma relação com a leitura desde cedo. “Projetos como esse ajudam a criar uma cultura de valorização do livro e, sobretudo, de inclusão literária,” aponta Itamar, ressaltando que a ação é algo que poderia ser replicado em outras regiões do país.
Ao alcançar a marca de 1 milhão de livros vendidos, Itamar Vieira Junior reflete sobre a relevância da literatura nacional no cenário atual e sua capacidade de impactar novas gerações de leitores. “A venda de 1 milhão de exemplares é algo que compartilho com os leitores e com os autores brasileiros. Isso mostra que a literatura do Brasil pode chegar a muitos lugares e atrair novos leitores,” afirma.
O sucesso de Torto Arado e de suas outras obras – Salvar o Fogo, Doramar ou a Odisseia, e o infantil Chupim – demonstram que a literatura brasileira tem força criativa para ganhar reconhecimento e prêmios, não só no Brasil, mas internacionalmente. Itamar vê seu papel, assim como o de outros autores contemporâneos como Jeferson Tenório e Carla Madeira, como uma responsabilidade de fortalecer a identidade cultural do país por meio de suas histórias. “A literatura brasileira tem mostrado ao mundo que temos uma produção literária de alta qualidade. É mais que hora de o Brasil ser visto como uma potência literária global,” diz o escritor.
Itamar também compartilhou suas novas empreitadas. Ele está em fase de conclusão de um romance que encerrará o ciclo iniciado com Torto Arado e afirma que, além disso, tem se dedicado ao público infantil. Seu recente lançamento, Chupim, publicado pelo selo Baião da editora Todavia, conta a história de um menino que trabalha no campo de arroz e é responsável por espantar um pássaro conhecido como chupim. A obra infantil já rendeu a Itamar várias oportunidades de contação de histórias e eventos para crianças.
Ao se dedicar a esse novo público, Itamar ressalta a importância de fomentar o interesse pela leitura desde a infância, relembrando sua própria trajetória, que começou com a literatura infantil. “Se eu me tornei autor, foi porque a literatura infantil despertou em mim a paixão pela leitura. Por isso, acredito que trabalhar com a literatura voltada para a infância é fundamental,” conclui o escritor, que segue empenhado em construir um legado de histórias que dialoguem com o Brasil e suas diversidades.
Fonte: Agência Brasil