As queimadas na Amazônia em 2024 atingiram números alarmantes, marcando o maior registro de focos de calor nos últimos 17 anos. Segundo dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram contabilizados 137.538 focos até o início de dezembro, superando em 43% o total de 2023, que teve 98.646 focos. A maior parte das ocorrências foi registrada entre julho e novembro, com números acima da média histórica.
O Pará, com a Amazônia como bioma predominante, lidera em número de focos de calor no país, totalizando 54.561. Municípios como São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso foram os mais impactados. A densa fumaça proveniente das queimadas comprometeu a qualidade do ar em diversas cidades, como Santarém, que decretou situação de emergência ambiental devido à alta concentração de poluentes.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), em novembro, a poluição do ar em Santarém foi 42,8 vezes superior às diretrizes anuais da Organização Mundial da Saúde (OMS). A Secretaria Municipal de Saúde informou que, entre setembro e novembro, foram realizados 6.272 atendimentos relacionados a sintomas respiratórios, evidenciando os impactos à saúde pública.
As queimadas na Amazônia refletem um cenário de degradação ambiental. A floresta, caracterizada por vegetação ombrófila, não possui adaptações para resistir ao fogo. O engenheiro florestal Alexandre Tetto, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que a Amazônia, por sua alta umidade e características específicas, é mais vulnerável aos impactos das queimadas em comparação ao Cerrado, que possui vegetação adaptada ao fogo.
Condições climáticas extremas em 2024, como estiagens prolongadas e baixa umidade do ar, contribuíram para a propagação do fogo. Francisco Wataru Sakaguchi, agricultor de Tomé-Açu, relatou mudanças sem precedentes em sua região, como seca em áreas historicamente alagadas. “Nunca vi o meu lago secar. Este ano, vi açaizeiros morrerem pela seca”, afirmou.
A brigada voluntária de Alter do Chão, em Santarém, intensificou esforços para combater incêndios na região, incluindo a Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. Daniel Gutierrez, integrante do grupo, destacou a necessidade de avançar nas investigações sobre as causas das queimadas, que são majoritariamente provocadas pela ação humana.
“O fogo natural na Amazônia é raro, geralmente causado por raios acompanhados de chuva. Na maioria das vezes, os incêndios são intencionais”, explica Gutierrez. Ele defende maior rigor na identificação e punição de responsáveis por incêndios ilegais.
A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do Pará intensificou operações contra queimadas, mobilizando 120 bombeiros, novas viaturas e helicópteros para monitoramento e combate aos focos de calor. No âmbito federal, o governo mobilizou mais de 1.700 profissionais, 11 aeronaves e 20 embarcações para conter incêndios na Amazônia e em outras regiões.
O governo federal também implementou medidas como a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo e aprovou créditos extraordinários para reforçar ações de combate aos incêndios. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, essas iniciativas visam articular esforços entre estados e órgãos federais, garantindo respostas rápidas e coordenadas.
O agravamento das queimadas e eventos climáticos extremos na Amazônia em 2024 ressalta a necessidade de ações integradas para conter o desmatamento e promover alternativas sustentáveis. Especialistas alertam que, sem mudanças estruturais, o bioma pode enfrentar impactos irreversíveis, comprometendo o equilíbrio ambiental e o bem-estar das populações locais.
Fonte: Agência Brasil