No coração de Parintins, no Amazonas, a tranquilidade habitual dá lugar a uma movimentação intensa durante o Festival de Parintins. O evento transforma a cidade em um vibrante centro comercial, atraindo vendedores locais e de outras regiões, que oferecem uma vasta gama de produtos, desde alimentos e bebidas até dispositivos eletrônicos. Porém, o que mais se destaca é a rica produção cultural local, evidenciada em artesanato, pinturas, adereços e vestuário.
O Festival de Parintins é crucial para o desenvolvimento e visibilidade do artesanato local. Mateus Pereira, um artesão talentoso, destaca a importância de inovar anualmente para agradar aos torcedores dos bois Caprichoso e Garantido. “Não pode repetir porque o cliente que vem, volta no ano seguinte. E ele não vai comprar uma peça que viu no ano anterior”, afirma. Mateus, que começou como artesão autodidata aos 12 anos, desenvolveu suas habilidades observando técnicas empregadas por sua mãe. Nascido em Manaus, mudou-se para Parintins ainda criança, onde sua arte ganhou notoriedade. Suas peças em madeira são especialmente apreciadas, mas sua produção inclui telas, esculturas e arte com material reciclável. “Tudo que eu tenho na minha vida eu consegui através da arte. Eu procuro fazer aquilo que mais vende em cada temporada, mas busco sempre oferecer uma produção diferenciada, dando uma perfeição às minhas peças, finalizando com um bom acabamento e usando boa matéria-prima”, diz Mateus.
O Festival de Parintins é um grande impulsionador para os artesãos locais. Muitos trabalham o ano inteiro, mas é durante o festival que as vendas realmente decolam. Mateus explica que, após o evento, ele adapta sua produção para atender a outros eventos e turistas, como a festa de Nossa Senhora do Carmo e os cruzeiros que chegam à cidade. “Eu trabalho 365 dias por ano. Depois do festival, eu mudo a temática e faço peças mais voltadas para o religioso. Depois chegam os navios de cruzeiro. Eles querem arara, tucano, onça, todo tipo de animal da fauna e da flora amazônica. Mas o festival é sempre a época que mais vende”, relata. O Festival de Parintins, em sua 57ª edição, divide a cidade entre o vermelho do Boi Garantido e o azul do Boi Caprichoso. Reconhecido como patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o evento celebra a tradição do Boi-Bumbá, baseada na lenda da ressurreição do boi. As apresentações no Bumbódromo envolvem 10 jurados avaliando 21 quesitos ao longo de três dias de competição, com o anúncio do campeão ocorrendo no final do evento. Mateus, torcedor do Caprichoso, valoriza a importância da disputa saudável e a diversidade de sua produção para agradar a todos os gostos. Ele menciona um projeto financiado pela Lei Aldir Blanc, que ajudou a divulgar seu trabalho e atrair compradores de diversas partes do mundo. “Eu fiz personagens e itens do festival. Com a visibilidade, um museólogo de São Paulo comprou todas as peças”, lembra.
O festival fomenta uma extensa cadeia de produção. Mateus explica que, para criar suas peças, ele depende de uma rede de colaboradores que fornecem matéria-prima, como raízes, galhos, frutas e sementes. A Central de Artesanato Soarte é um ponto de destaque, onde uma variedade de produções com a temática do festival atrai a atenção dos visitantes. A expectativa do governo amazonense é que o evento movimente R$ 160 milhões, com a prefeitura de Parintins esperando 120 mil visitantes, mais do que a população local de 96,3 mil pessoas. O impacto econômico se estende além de Parintins, beneficiando setores como transporte e comércio em Manaus e outras cidades do Amazonas.
O designer gráfico Weucles Santos, membro do Movimento Amigos do Garantido (MAG), exemplifica a paixão e dedicação dos envolvidos com o festival. Natural de Itacoatiara e residente em Manaus, Weucles viajou 16 horas de barco para participar do evento e contribuir com materiais artísticos de divulgação. “Nós somos a vitrine em Manaus. Fazemos os eventos e lançamos a campanha para o festival”, explica.
O Festival de Parintins se destaca por suas características únicas, apesar das semelhanças com o carnaval carioca em termos de grandiosidade das alegorias. Agostinho Rodrigues, coordenador de figurinos do Boi Garantido, ressalta a sustentabilidade na produção, utilizando materiais locais e técnicas artesanais para minimizar o impacto ambiental. “Nós queremos um festival que não agrida a natureza. A natureza nos dá muito material sem que seja necessário agredi-la”, comenta. A produção das apresentações começa no ano anterior, envolvendo centenas de profissionais. As fantasias e alegorias são feitas manualmente, sem recursos eletrônicos, demonstrando a habilidade e dedicação dos artistas locais. “Esse festival é uma vitrine. Ele está vendendo a nossa imagem, mostrando o conhecimento do artista parintinense”, afirma Agostinho.
A música é uma parte essencial do Festival de Parintins. Cada boi escolhe um tema anual que guia a produção de fantasias, alegorias e músicas. As toadas, canções típicas do festival, são lançadas em álbuns e disponibilizadas em plataformas digitais, contribuindo para a carreira de muitos artistas locais. O Festival de Parintins é mais do que uma celebração cultural; é uma manifestação da identidade e criatividade do povo amazônida. A cada ano, o evento fortalece a economia local, promove a arte e cultura regionais e encanta turistas de todo o mundo com sua rica tradição e espetáculos deslumbrantes.
Fonte: Agência Brasil