O Brasil assume pela quarta vez a presidência rotativa do Brics, em um momento marcante de expansão do bloco, que agora conta com nove novos membros confirmados e outros em processo de adesão. A presidência brasileira traz como lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, e pretende promover pautas como reforma da governança global e desenvolvimento sustentável com inclusão social.
O Brics, inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, já havia incorporado cinco novos membros em 2024: Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Arábia Saudita. Em 2025, o bloco dá mais um passo adiante com a confirmação de Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. A inclusão desses países amplia a representatividade do bloco, consolidando-o como um espaço de diálogo e integração para mais de 40% da população global e 37% do PIB mundial por paridade de poder de compra.
Um dos principais desafios para o Brasil será gerenciar a dinâmica de um bloco expandido, com mais de dez membros efetivos e outros associados. O professor Paulo Borba Casella, do Grupo de Estudos sobre o Brics (Gebrics) da USP, destacou que o país precisará desenvolver estratégias para operacionalizar essa nova configuração. “Será preciso ver como o Brasil consegue ajudar a fazer funcionar o Brics na sua nova configuração, com dez estados e mais uma dúzia de associados. Ainda ninguém sabe exatamente como isso vai operar”, afirmou.
Além disso, o Brasil terá a missão de avançar na construção de um sistema de pagamentos em moedas locais entre os países-membros, um passo estratégico para reduzir a dependência do dólar no comércio internacional.
O Brics também tem sido uma plataforma para repensar a ordem internacional, oferecendo uma alternativa ao modelo liderado pelos Estados Unidos. A substituição do dólar por moedas locais, por exemplo, gerou reações de líderes como o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que ameaçou impor sanções econômicas aos países que adotarem essa prática.
Segundo Casella, porém, essas ameaças têm um caráter mais político do que prático. “Trump joga para o eleitorado interno, mas não tem condições de impor tarifas a todos os países do Brics sem prejudicar a economia dos EUA”, avaliou.
Para a professora Maria Elena Rodríguez, coordenadora do grupo de pesquisa sobre Brics da PUC-Rio, a nova presidência brasileira tem uma oportunidade única de consolidar avanços importantes. “Diferentemente da presidência anterior, que foi tímida, o Brasil agora tem condições de apresentar propostas concretas, como a ampliação do uso de moedas locais e o fortalecimento do papel do continente latino-americano no bloco”, afirmou.
Entre as principais demandas do Brics, estão a reforma da governança global e a ampliação da representatividade de países da Ásia, África e América Latina em instituições como o Conselho de Segurança da ONU, a Organização Mundial do Comércio (OMC) e organismos financeiros como o Banco Mundial e o FMI.
A inclusão dos novos membros reforça a relevância do bloco como um contraponto ao G7, grupo formado pelas economias mais industrializadas do mundo. Com a presidência brasileira, o Brics espera consolidar sua posição como uma plataforma de cooperação e desenvolvimento sustentável, promovendo maior inclusão social e econômica entre seus membros.
O Brics foi criado para ser uma alternativa de integração entre economias emergentes e tem sido usado como espaço de diálogo entre países insatisfeitos com a ordem internacional vigente. Desde sua fundação, o bloco se destacou como um fórum de promoção de igualdade entre as nações, fortalecendo a cooperação no Sul Global.
O Brasil, ao assumir essa nova presidência, tem diante de si a responsabilidade de não apenas liderar o bloco, mas também demonstrar capacidade de gestão e influência em um cenário global cada vez mais desafiador e multipolar.
Fonte: Agência Brasil