A Casa Brasil Paralímpico se tornou o epicentro da cultura e inclusão brasileira durante os Jogos Paralímpicos de Paris, transformando a pequena cidade de Saint-Ouen em um verdadeiro pedacinho do Brasil na França. Situada em um complexo gastronômico localizado em um boulevard, a Casa Brasil Paralímpico é o ponto de encontro para torcedores, fãs da cultura brasileira, autoridades e atletas medalhistas. A palavra-chave de foco deste evento é “Casa Brasil Paralímpico”, que reflete a vibrante interseção entre esporte e cultura durante um dos maiores eventos esportivos do mundo.
Inaugurada em 29 de agosto, a Casa Brasil Paralímpico fica a cerca de 40 minutos de carro de Paris e já se estabeleceu como um dos locais mais visitados pelos amantes do esporte e da cultura brasileira. De acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), a expectativa é que até quatro mil visitantes passem pelo local diariamente até o fim da Paralimpíada, em 8 de setembro.
No centro das atrações da Casa Brasil Paralímpico, um telão instalado próximo à praça de alimentação permite que os visitantes acompanhem as provas dos atletas brasileiros em tempo real. Mas o espaço oferece muito mais do que transmissões esportivas. A programação cultural é rica e diversificada, começando com apresentações musicais de Luan Richard, um talentoso músico cego que emociona o público com clássicos da música brasileira. Em uma de suas apresentações, Luan fez um dueto inesquecível com Jackson Follmann, ex-goleiro sobrevivente do acidente aéreo da Chapecoense, que também tem uma perna amputada.
A cultura e a inclusão são os pilares da Casa Brasil Paralímpico. O batuque contagiante do Samba Inclusivo da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (Liga-SP) é um exemplo perfeito dessa fusão. Passistas e ritmistas com deficiência, como Wagner Esteves, conhecido como Gavião, levantam o público com ritmos tradicionais do carnaval brasileiro. Gavião, que toca repinique e utiliza uma prótese na perna direita devido a um acidente de carro, é também atleta de futebol de amputados. Ele expressa seu desejo de ver essa modalidade incluída nos Jogos Paralímpicos futuros. “O esporte é renovador, é superação, é força. Assim como a música, ele transforma vidas”, comenta Gavião, destacando a importância de continuar lutando por inclusão.
A Casa Brasil Paralímpico também é um espaço para celebrar histórias de superação e resiliência. Melina Reis, uma bailarina clássica que teve a perna esquerda amputada após um acidente de moto, é uma dessas histórias. Graças a uma prótese personalizada que a permite voltar a dançar na ponta dos pés, Melina retornou ao mundo da dança, que tanto ama. Ela lidera as apresentações de samba inclusivo e descreve a importância dos atletas paralímpicos como fonte de inspiração. “Os atletas são a base de tudo. A dança também é muito parecida, é sobre se desafiar e se reinventar”, diz Melina, que agora encontra um novo propósito ao levar esperança através da arte.
O palco da Casa Brasil Paralímpico também acolhe as bailarinas da Associação Fernanda Bianchini, o único grupo profissional de balé no mundo formado por dançarinas cegas. Este grupo, criado em 1995, já conta com mais de 400 alunos com deficiência e é conhecido por sua atuação no movimento paralímpico. Em 2012, as bailarinas participaram da cerimônia de encerramento dos Jogos de Londres, um marco na história da inclusão artística.
Gisele Nahkur, uma das bailarinas que se apresentou no Estádio Olímpico de Londres, compartilha sua emocionante jornada. Antes de perder a visão, Gisele sonhava em ser jogadora de basquete, mas foi após a cegueira que encontrou uma nova paixão no balé. “Dançamos para 82 mil pessoas. Nunca imaginei que, depois de cega, poderia participar de uma Paralimpíada. Isso devolveu minha vontade de sorrir e viver”, recorda Gisele, ressaltando a força transformadora da dança em sua vida.
Já Gisele Camillo, outra talentosa bailarina da associação, nasceu com deficiência visual e perdeu completamente a visão devido a um glaucoma. Ela relembra como o balé inclusivo mudou sua vida, permitindo que ela realizasse o sonho de dançar profissionalmente, além de se formar em educação física. “Estar aqui, uma pessoa com deficiência, representando nossa escola e estando perto dos atletas paralímpicos, é indescritível”, comenta Camillo, emocionada por estar realizando um sonho tão grande quanto o dos atletas que ela admira.
A Casa Brasil Paralímpico em Saint-Ouen não é apenas um espaço de celebração cultural, mas também um símbolo de inclusão e acessibilidade. Cada atividade, desde as apresentações musicais até as demonstrações de dança, reforça a mensagem de que o esporte e a arte têm o poder de transformar vidas, inspirar e unir pessoas de diferentes origens e capacidades. À medida que os Jogos Paralímpicos de Paris avançam, a Casa Brasil continua a ser um farol de esperança, onde a cultura brasileira e o espírito de superação brilham intensamente.
Fonte: Agência Brasil