Clubes de leitura e incentivo à literatura no Brasil. A escritora, cordelista e poeta Jarid Arraes é um exemplo de como os clubes de leitura podem ser espaços transformadores. Leitora voraz desde a adolescência, ela fundou o clube Encruzilhada em 2023, com o objetivo de explorar a literatura de horror, tema que considera subestimado na discussão de questões sociais e existenciais.
“Queria mostrar para as pessoas que muitas questões complexas foram representadas na literatura de horror. Criei o clube para me aproximar de outras pessoas que também gostam de horror, mas não só. No clube existem muitas pessoas que nunca tinham lido nada do gênero”, explica Jarid, autora de obras como Redemoinho em dia quente e Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis.
Jarid, nascida em Juazeiro do Norte (CE), destaca a importância de comunidades como os clubes de leitura para ampliar o acesso e o interesse pela literatura, principalmente em regiões onde livros são menos acessíveis. “Os clubes criam um senso de comunidade que atrai até aqueles que não se interessavam por leitura. É uma forma de democratizar o acesso e aproximar as pessoas dos livros.”
Especialistas como a professora Márcia Lisbôa Costa de Oliveira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), reforçam que os clubes de leitura são históricos pontos de encontro e troca de ideias. Segundo ela, “ler em grupo, com afinidades, estimula o desenvolvimento de uma postura crítica diante dos textos e do mundo”.
O Clube de Leitura do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro, é um exemplo bem-sucedido dessa prática. Criado durante a pandemia, ele atraiu mais de 1.200 participantes em 2023, um crescimento de 163% em relação ao ano anterior. Com curadoria da escritora Suzana Vargas, o clube busca despertar o prazer da leitura e mostrar que ela pode ser um lazer acessível e transformador.
“O objetivo é despertar as pessoas para o prazer da leitura. Sempre defendi que não importa o suporte da leitura, mas sim que o leitor descubra que ler é prazeroso”, ressalta Vargas.
Apesar do sucesso de iniciativas como clubes de leitura, o Brasil ainda enfrenta sérios desafios no que diz respeito à formação de leitores. Segundo a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2024, houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país. Pela primeira vez, a proporção de não-leitores (53%) superou a de leitores.
Entre os obstáculos apontados por especialistas estão a falta de acesso aos livros e o alto custo das obras literárias. Em 2024, o preço médio de um livro no Brasil chegou a R$ 51,48, enquanto o salário mínimo foi de R$ 1.412,00.
Jarid Arraes destaca que muitas pessoas ainda percebem a literatura como algo elitista e distante. “Precisamos transformar a literatura em algo interessante e acessível, tirá-la de um pedestal e diversificar as vozes publicadas. Só assim podemos alcançar uma verdadeira democratização da leitura.”
Além das iniciativas individuais e comunitárias, especialistas defendem a implementação de políticas públicas robustas para enfrentar o problema. Márcia Oliveira enfatiza a importância de programas que fomentem a leitura, como a formação de professores e bibliotecários, a ampliação de acervos em escolas e bibliotecas públicas, e campanhas que valorizem a leitura como fonte de prazer e conhecimento.
Ana Isabel Borges, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), alerta que é preciso criar condições de vida melhores para que a população tenha tempo e recursos para se dedicar à leitura. “Sem ócio não existe leitura. É preciso garantir jornadas de trabalho razoáveis, salários justos e mais segurança no futuro, para que as pessoas possam se dedicar a atividades como a leitura.”
Os desafios também incluem disparidades regionais. A pesquisa Retratos da Leitura revelou que o Sul do país tem a maior proporção de leitores (53%), enquanto o Nordeste apresenta o menor índice (43%). Fatores como renda, escolaridade e infraestrutura contribuem para essas desigualdades.
A busca por soluções passa pela união entre políticas públicas e iniciativas da sociedade civil, como os clubes de leitura. Essas ações podem ajudar a reverter os números alarmantes e transformar a leitura em uma prática acessível a todos os brasileiros.
Fonte: Agência Brasil