“Flores em vida são fundamentais”. Essa filosofia tem guiado o trabalho do pesquisador e produtor Pedro Rajão e do muralista Cazé, do projeto Negro Muro, que transformam as ruas e galerias em verdadeiras celebrações da história e cultura negras. No último sábado (18), o projeto atingiu um marco significativo com a finalização de um mural de 600 metros quadrados dedicado à escritora Conceição Evaristo, na zona portuária do Rio de Janeiro, mais especificamente na histórica Pequena África.
Entre as personalidades já homenageadas pelo projeto estão ícones como Elza Soares, Paulinho da Viola, Zezé Motta, Alcione e Leci Brandão, que tiveram a oportunidade de ver seus murais em vida. Desta vez, a escolha de Conceição Evaristo, uma das vozes mais importantes da literatura contemporânea, reafirma o compromisso do Negro Muro em destacar figuras fundamentais da cultura negra no Brasil.
Um Trabalho de Resistência e Arte
A criação do mural, segundo Pedro Rajão, foi desafiadora. “Trabalhar sob o sol escaldante do verão carioca, em uma estrutura de ferro em grande altura, e ainda enfrentar semanas de chuva e vento, tornou o processo muito árduo. Mas, no final, cada esforço valeu a pena”, comenta o produtor, responsável pela pesquisa e comunicação do projeto.
Para realizar o trabalho monumental, o muralista Cazé contou com a colaboração de César Mendes, João Bella e Leandro Ice, além do apoio do festival Rua Walls. Foram necessários 200 litros de tinta para dar vida à imagem de Conceição Evaristo, que agora ocupa uma das laterais de um edifício no Largo da Prainha, um ponto de boêmia e memória negra próximo ao histórico Cais do Valongo, local que recebeu o maior número de africanos escravizados do mundo.
Pedro Rajão destaca ainda a proximidade do mural com a vida pessoal e cultural da homenageada. Conceição Evaristo mantém na região o centro cultural Casa Escrevivência, a poucos metros do mural, e mora no Morro da Conceição, vizinho ao Largo da Prainha.
Celebração e Memória
A inauguração oficial do mural está marcada para a próxima quarta-feira (29), às 19h, com a presença da escritora e um show especial do grupo Mulheres da Pequena África. O evento promete ser um marco na celebração da cultura negra no Rio de Janeiro, reforçando a relevância do Largo da Prainha como espaço de resistência e memória.
Conceição Evaristo, autora de obras como Ponciá Vicêncio e Olhos d’Água, é reconhecida não apenas por sua produção literária, mas também por sua defesa da igualdade racial e de gênero. Para Pedro Rajão, o mural é mais do que uma homenagem: é uma forma de eternizar a história de uma mulher que transformou palavras em potência e resistência.
A obra não apenas enriquece o cenário urbano do Rio de Janeiro, mas também reafirma a Pequena África como um território vivo de memória e identidade, onde a cultura negra é celebrada em toda a sua diversidade e força.
“Este mural não é só uma homenagem, é um símbolo de pertencimento. É sobre ocupar espaços e transformar a paisagem urbana em um reflexo da nossa história e do nosso futuro”, conclui Rajão.
Fonte: Agência Brasil