O crescimento do ensino superior no Brasil em 2023 foi notável, com um aumento de 5,6% no número total de matrículas, atingindo o maior patamar em nove anos, conforme o Censo de Educação Superior divulgado pelo Ministério da Educação (MEC). O total de estudantes matriculados, somando as modalidades presencial e a distância, chegou a 9,9 milhões, consolidando uma tendência de expansão significativa no setor.
Um dos dados mais relevantes trazidos pelo Censo foi o crescimento expressivo da educação a distância (EaD), que registrou 4,9 milhões de matrículas, representando quase metade (49%) do total de alunos no ensino superior. Essa modalidade tem avançado rapidamente, com projeções do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) indicando que em breve o número de estudantes em cursos EaD deve superar o de alunos em cursos presenciais. Hoje, a diferença entre as duas modalidades é de apenas 150.220 matrículas.
O crescimento da educação a distância nos últimos anos é marcante. Entre 2018 e 2023, o número de cursos EaD aumentou em impressionantes 232%. Esse avanço foi impulsionado, principalmente, pela pandemia de Covid-19, que acelerou a migração para o ensino remoto. O contexto pandêmico trouxe uma nova percepção sobre a flexibilidade e acessibilidade dessa modalidade, expandindo seu alcance por todo o país.
No cenário atual, as instituições privadas são responsáveis por 79,3% das matrículas em cursos a distância, destacando seu protagonismo na oferta desse tipo de ensino. De 2022 a 2023, o setor privado registrou um crescimento de 7,3% no número de alunos matriculados em cursos EaD. Em contrapartida, as instituições públicas apresentaram uma leve queda de 0,4% nas matrículas a distância, correspondendo a 20,7% do total.
Celso Niskier, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), comentou sobre a mudança no perfil das matrículas: “O número total de alunos matriculados no ensino superior cresceu, o que é uma boa notícia para o país. Notamos que o número de alunos matriculados nos cursos EaD praticamente igualou o número de alunos nos cursos presenciais, que vem caindo gradativamente.”
Niskier também destacou o desafio para o futuro: “Nosso desafio é investir na qualidade da educação a distância, que é a modalidade responsável pela democratização do acesso ao ensino superior em todo o Brasil.”
Outro dado importante do Censo da Educação Superior 2023 é a análise do impacto das políticas de cotas e dos programas de financiamento estudantil, como o Prouni e o Fies. De acordo com o levantamento, 51% dos alunos que ingressaram no ensino superior por meio de cotas concluíram seus cursos, superando a taxa de 41% observada entre estudantes que não são cotistas. Isso demonstra a relevância das políticas públicas para garantir a permanência e o sucesso de estudantes oriundos de grupos historicamente excluídos do ensino superior.
Além disso, o levantamento mostrou que o Prouni e o Fies continuam desempenhando um papel crucial no apoio aos estudantes de baixa renda, possibilitando que mais brasileiros tenham acesso ao ensino superior. A conclusão dos cursos por parte dos estudantes beneficiados por esses programas reforça a eficácia dessas iniciativas.
Outro dado inédito apresentado pelo Censo é que, entre os estudantes que concluíram o ensino médio em 2022, 27% ingressaram no ensino superior no ano seguinte. Os maiores percentuais de transição para o terceiro grau foram registrados entre estudantes de escolas federais (58%) e da rede privada (59%).
O crescimento do ensino superior no Brasil reflete uma tendência positiva, mas também traz desafios. Um dos maiores é garantir a qualidade dos cursos oferecidos, especialmente na modalidade a distância, que tem sido responsável por grande parte da expansão recente. Além disso, a necessidade de manter o equilíbrio entre o crescimento quantitativo e a qualidade do ensino é uma prioridade para as instituições de ensino superior e para o governo.
Com o avanço dos cursos EaD e o papel central que desempenham na democratização do acesso à educação, os próximos anos serão decisivos para consolidar essa modalidade como uma alternativa viável e de qualidade para milhões de brasileiros. Investimentos em infraestrutura tecnológica, capacitação de docentes e aprimoramento das metodologias de ensino são fundamentais para assegurar que o crescimento continue de forma sustentável e inclusiva.
Enquanto o ensino presencial ainda mantém sua importância, o cenário aponta para uma mudança estrutural no ensino superior brasileiro, com a educação a distância ganhando cada vez mais espaço e relevância. Essa transformação tem o potencial de ampliar o acesso ao ensino de qualidade, especialmente em regiões mais remotas e para aqueles que, de outra forma, não conseguiriam conciliar estudo com trabalho ou outras responsabilidades.
Fonte: Agência Brasil