Letramento racial no SUS é o foco de uma nova formação gratuita lançada pela Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Campus Virtual Fiocruz. A iniciativa ocorre no contexto das comemorações do Dia da Consciência Negra, celebrado pela primeira vez como feriado nacional em 2024. Com o objetivo de conscientizar trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre o impacto do racismo e promover práticas antirracistas, o curso destaca a necessidade de equidade e diversidade no campo da saúde pública.
Coordenado pelas professoras Regimarina Reis e Letícia Batista, o curso é resultado de uma parceria entre a Fiocruz e as universidades federais da Bahia (UFBA), do Maranhão (UFMA), do Rio de Janeiro (UFRJ) e Fluminense (UFF). A iniciativa conta ainda com o apoio do Ministério da Educação (MEC).
O curso explora temas como as relações entre o racismo e a saúde como direito, além da prática antirracista no trabalho em saúde. Para Regimarina Reis, uma das coordenadoras do curso, a formação é crucial diante das desigualdades enfrentadas pela população negra no Brasil. “A população negra é desproporcionalmente afetada pelas desigualdades sociais no país. Isso se reflete diretamente no acesso à saúde e nos indicadores de adoecimento”, explica.
Dados do Censo Demográfico 2022, do IBGE, apontam que 55,5% da população brasileira se identifica como negra, sendo 45,3% autodeclarada parda e 10,2% preta. Apesar de constituir a maioria, essa parcela enfrenta menos acesso a serviços de saúde. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde 2019, apenas 74,8% das pessoas pretas e 73,3% das pardas consultaram um médico no último ano, contra 79,4% das pessoas brancas.
“O racismo é uma tecnologia de poder que organiza hierarquias sociais e impacta diretamente o SUS. Ele reproduz iniquidades que comprometem os princípios de universalidade e integralidade do sistema”, acrescenta Letícia Batista.
A capacitação é parte do edital Inova Educação – Recursos Educacionais Abertos, da Fiocruz, e está disponível para qualquer pessoa interessada no tema. Segundo Reis, o curso busca ser um ponto de partida introdutório para compreender como as relações raciais moldam os processos de saúde e adoecimento.
“A expectativa é fortalecer ações práticas e políticas antirracistas. Com racismo, os princípios do SUS são inviabilizados. Precisamos enfrentá-lo como um obstáculo central para a saúde como direito”, reforça Reis.
A iniciativa já conta com cerca de 7 mil inscritos de todas as 27 unidades da Federação. Composto por conteúdos teóricos e práticos, o curso também incentiva a produção de estratégias locais que contribuam para a equidade no acesso à saúde.
O conceito de racismo estrutural permeia toda a formação. Segundo Regimarina Reis, ele não é apenas uma questão interpessoal, mas está presente nas instituições públicas, incluindo o SUS. “O racismo é reproduzido nas organizações de saúde, no trabalho e na formação dos profissionais. Há uma interdição desse debate ao longo dos processos formativos, o que agrava as desigualdades”, pontua.
Esse cenário destaca a importância de iniciativas como o curso de letramento racial. Ao abordar o racismo como promotor de adoecimento individual e coletivo, a formação busca promover mudanças na cultura institucional e nas práticas profissionais no sistema de saúde.
Ao oferecer ferramentas para reconhecer e combater práticas racistas, o curso da Fiocruz representa um avanço no compromisso do SUS com a equidade. As organizadoras esperam que a iniciativa inspire outras ações voltadas para a conscientização e a formação em saúde, além de contribuir para a construção de um sistema mais justo e inclusivo.
“O racismo compromete a universalidade e a integralidade do SUS. Essa formação é um passo importante para corrigir desigualdades e fortalecer o sistema como um todo”, conclui Batista.
Fonte: Agência Brasil