Os manguezais da região amazônica, que se estendem do Pará ao Maranhão, são fundamentais para a biodiversidade, economia e cultura alimentar das comunidades locais. Em Bragança (PA), na chamada Região do Salgado, esses ecossistemas costeiros fazem parte da rotina dos moradores, que convivem com espécies como o ajuru, o turu e o caranguejo-uçá.
Além de serem fontes de alimento e renda, esses manguezais representam um dos ecossistemas mais ricos e importantes do planeta. Segundo o pesquisador Marcus Fernandes, da Universidade Federal do Pará (UFPA), a costa amazônica abriga mais de 80% dos manguezais do Brasil, posicionando o país como o segundo no mundo com maior extensão desse bioma, atrás apenas da Indonésia.
“A costa amazônica tem uma conectividade única com diferentes ecossistemas, como os recifes de coral amazônicos e as florestas de várzea. Isso a torna diferente dos manguezais do Nordeste e do Sudeste brasileiro, que têm bacias hidrográficas menores e menos sedimentos”, explica Fernandes.
Educação Ambiental e Conscientização
Apesar de o Brasil ter uma extensa faixa litorânea e grande parte da população vivendo no litoral, a experiência direta com o manguezal ainda é rara para muitos. Foi o que percebeu Maria Eduarda Mendes, de 17 anos, moradora de Bragança. Mesmo crescendo à beira do mar, seu contato com o mangue se limitava às histórias contadas pelo avô e pelo tio, ambos pescadores.
Em 2024, ela teve a oportunidade de mudar essa realidade ao participar do projeto Escola Vai ao Mangue, promovido pelo Instituto Peabiru, com apoio da Petrobras. Durante a experiência, Maria Eduarda pôde ver de perto as raízes das árvores, sentir a textura da lama e aprender sobre a fauna e flora local.
“Quando voltei para casa, contei para todo mundo o quanto foi divertido e como eu queria vivenciar isso mais vezes”, relata.
O projeto integra um programa maior chamado Mangues da Amazônia, que, somente em 2024, recebeu cerca de 2 mil alunos e 300 professores de 29 escolas e duas universidades. Segundo o coordenador Madson Galvão, o objetivo é ampliar a percepção dos estudantes sobre a Amazônia.
“Muitos deles associam a Amazônia apenas à floresta de terra firme, mas a região costeira também é parte desse bioma. Os manguezais conectam os rios, a floresta e o mar, desempenhando um papel essencial para o equilíbrio ambiental”, destaca.
Expansão e Propostas para a COP30
Em 2025, quando o Pará sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), os organizadores do projeto planejam expandir as atividades. Além de aumentar a capacidade de atendimento, propostas de educação ambiental serão encaminhadas para a 1ª Conferência Internacional Infantojuvenil sobre Educação e Mudança do Clima, que ocorrerá em março, como evento preparatório da COP.
Aulas a Céu Aberto: Imersão e Impacto
Para Marcus Fernandes, as experiências sensoriais proporcionadas pelo projeto são fundamentais para que os alunos compreendam a importância do manguezal. Ele destaca que esse ecossistema armazenar até três vezes mais carbono do que florestas de terra firme, contribuindo significativamente para a mitigação das mudanças climáticas.
Durante as visitas, os alunos aprendem a identificar as principais espécies de mangue:
- Rhizophora mangle (mangue-vermelho)
- Avicennia schaueriana (mangue-preto)
- Laguncularia racemosa (mangue-branco)
Além disso, conhecem a fauna local, incluindo o caranguejo-uçá, que se desenvolve especialmente no solo lamoso do mangue-vermelho.
Reflorestamento e Conscientização
Uma das ações do programa é o plantio de mudas para recuperação de áreas degradadas. Desde sua criação, o projeto já reflorestou 16 hectares de manguezal, monitorando o retorno dos caranguejos e estudando a genética das espécies para aumentar a resistência das plantas.
Maria Eduarda lembra com entusiasmo do momento em que ajudou a plantar novas mudas no mangue. “Saber que eu fiz parte disso e que, no futuro, poderei ver como cresceu é incrível”, diz.
O envolvimento dos estudantes também inclui a troca de conhecimentos com pescadores e extrativistas, aproximando a ciência dos saberes tradicionais. Para Fernandes, essa abordagem interdisciplinar amplia a compreensão sobre a relação entre o meio ambiente, a sociedade e a cultura local.
Com a expansão do projeto e a inclusão do tema na COP30, a expectativa é que mais jovens tenham a oportunidade de vivenciar e contribuir para a conservação desse ecossistema essencial para a biodiversidade e para o equilíbrio ambiental global.
Fonte: Agência Brasil