A fé e o ativismo são os temas centrais da exposição gratuita “Para Falar de Amor”, que acontece no antigo Noviciado Nossa Senhora das Graças, um patrimônio histórico do bairro do Ipiranga, em São Paulo. A mostra, que apresenta obras de cerca de 60 artistas, foi idealizada pela plataforma de produções culturais Kura, de Kauê Fuoco, e tem curadoria de Saulo di Tarso, que destaca a liberdade e a ressignificação artística como seus principais eixos.
Desde o início do projeto, a ideia foi explorar a sincronicidade entre arte e vida, permitindo que artistas e visitantes manifestem o que sentem sem as limitações impostas por moldes tradicionais. “Para mim, o mais importante hoje é destacar a liberdade dos artistas”, explicou di Tarso durante a apresentação da exposição. Ele destacou que a mostra aborda temas essenciais como o sagrado, o filosófico e o poético, proporcionando uma interação livre entre arte e público.
Entre as obras em destaque, está a inédita “Sincronicidade”, uma coleção de narrativas que percorrem 20 anos de experiências pessoais e artísticas do próprio Saulo di Tarso. A obra sintetiza o espírito da exposição, refletindo sobre os laços entre o espiritual e o cotidiano, a sincronia dos eventos e a força da arte em tempos de incertezas.
Outro ponto forte da exposição é o trabalho de dois jovens artistas italianos, que foram convidados pelo curador para refletir sobre o impacto da pandemia. Matteo Zoccolo, em seu eixo intitulado Niente da fare, aborda a desolação social pós-pandemia em Biella, uma cidade industrial do norte da Itália. Essa abordagem conecta a experiência global da pandemia com a proposta do Kura, de ressignificar histórias e espaços. Já Leonardo Maurizio, outro artista italiano, apresenta sua exploração da arte pós-vandalismo, investigando os impactos do distanciamento social e das intervenções urbanas na Itália.
Esses dois trabalhos fazem parte de um diálogo mais amplo que a exposição propõe, questionando o papel da arte na recuperação emocional e social após eventos disruptivos como a pandemia de COVID-19. “A pandemia deixou lacunas, e a arte tem o poder de preenchê-las com novas perspectivas e significados”, destacou Saulo di Tarso, relacionando o trabalho dos artistas com a filosofia do Kura.
Um dos grandes destaques da exposição é a obra de Francisco Silva Aka Nunca, que combina gravura histórica com grafite, criando uma fusão única entre a ancestralidade e a arte urbana. Conhecido por seus murais na Avenida 23 de Maio, em São Paulo, e seu trabalho em prol da descolonização, Nunca é uma das vozes mais influentes de sua geração. Suas obras propõem reflexões sobre identidade, território e a história brasileira, ao mesmo tempo em que dialogam com o espaço público.
Sua abordagem inovadora resgata elementos da história através de técnicas de gravura clássicas, fundindo-as com o grafite contemporâneo, em uma linguagem visual que conecta passado e presente. As obras de Nunca são reconhecidas internacionalmente, e sua participação na mostra reforça o caráter plural e inclusivo da exposição, que busca dar voz a diversas formas de expressão artística.
Além das pinturas e intervenções urbanas, “Para Falar de Amor” oferece ao público uma rica diversidade de linguagens artísticas. Entre as obras em exibição estão poesias, gravuras, literatura e performances, refletindo o compromisso da mostra com a pluralidade de manifestações culturais.
Uma das atrações especiais é a exibição de três séries de xilogravuras de Albrecht Dürer, um dos mais importantes artistas do Renascimento alemão. Ao todo, são 48 obras que demonstram o primor técnico e a profundidade filosófica de Dürer, estabelecendo um diálogo entre o antigo e o contemporâneo.
A exposição também conta com uma atividade interativa: uma meditação em um labirinto, oferecida pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). A prática busca proporcionar uma experiência sensorial e espiritual, conectando o público com o tema central da mostra, que é o diálogo entre o amor, a fé e a arte.
Realizada em um edifício centenário e com forte valor histórico e cultural, a exposição também chama a atenção para a importância de valorizar o patrimônio arquitetônico da cidade. O Noviciado Nossa Senhora das Graças, onde a mostra acontece, é um marco do bairro do Ipiranga e está sendo ressignificado como um espaço de encontro entre o passado e o presente, a história e a modernidade.
Segundo Saulo di Tarso, a escolha do local não foi por acaso. “Este espaço tem uma energia muito especial, e acredito que ele potencializa a mensagem da exposição. A ideia é que as pessoas não só vejam as obras, mas também sintam a história desse lugar”, afirmou.
A exposição “Para Falar de Amor” estará aberta ao público gratuitamente e oferece uma oportunidade única de entrar em contato com uma ampla gama de expressões artísticas, que variam da meditação à gravura, passando por intervenções urbanas e performances.
Fonte: Agência Brasil