Uma análise divulgada recentemente na revista Nature Food lança luz sobre a distribuição dos subsídios agrícolas na União Europeia (UE), revelando uma preferência significativa pelo suporte à pecuária em comparação com a agricultura vegetal. Segundo o estudo, mais de 80% dos fundos públicos destinados pela Política Agrícola Comum (PAC) da UE beneficiam diretamente a produção animal, um setor conhecido por suas elevadas emissões de gases de efeito estufa.
O estudo, conduzido por pesquisadores de renome, analisa o impacto desses subsídios na dieta e no meio ambiente europeu, demonstrando como essa distribuição de recursos torna as dietas ricas em carne mais acessíveis e, por consequência, dificulta a transição para uma alimentação mais sustentável e menos poluente.
Os dados revelam que, dos subsídios agrícolas totais, 38% são alocados diretamente à pecuária, enquanto outros 44% destinam-se à produção de ração animal. Essa concentração de recursos em favor da criação de animais contrasta com a necessidade urgente de promover práticas agrícolas mais sustentáveis e de menor impacto ambiental, especialmente frente ao compromisso da Europa de se tornar o primeiro continente com neutralidade climática até 2050.
Paul Behrens, da Universidade de Leiden, e coautor do estudo, critica a atual política de subsídios, destacando que os recursos estão sendo direcionados para produtos que contribuem significativamente para as crises climática e ambiental. Segundo ele, a produção de carne bovina, por exemplo, requer muito mais terra e recursos do que cultivos vegetais, como nozes e grãos, para produzir a mesma quantidade de proteína.
O documento também aponta para a distorção causada no mercado agrícola pela PAC, que tende a beneficiar grandes propriedades focadas na pecuária, em detrimento de pequenas explorações agrícolas mais diversificadas e sustentáveis. Essa preferência tem consequências diretas para a biodiversidade, a saúde pública e o cumprimento de metas climáticas.
A reformulação da PAC, prevista para o período de 2023-2027, inclui a introdução de “regimes ecológicos”, que destinam uma parte dos pagamentos diretos a práticas agrícolas ambientalmente amigáveis. Contudo, essa mudança enfrenta resistência de setores da pecuária, que veem nas novas diretrizes uma ameaça aos seus subsídios tradicionais.
Este estudo surge em um momento crítico para a política agrícola europeia, com alguns países recuando no apoio a legislações ambientais e um recente acordo entre os Estados-membros da UE para atrasar obrigações de sustentabilidade para agricultores. O levantamento é um chamado para a reavaliação dos subsídios agrícolas na Europa, sugerindo a necessidade de um redirecionamento dos recursos para suportar uma transição urgente para práticas alimentares e agrícolas mais sustentáveis e saudáveis.
Fonte: Agência Brasil