A literatura infantil ganha uma nova obra de peso com o lançamento de “Chupim”, do escritor Itamar Vieira Junior, autor do aclamado “Torto Arado”. A obra, apresentada ao público durante a Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), em Salvador, retoma o universo do campo brasileiro já explorado em seu romance anterior, desta vez sob a ótica de uma criança.
Julim, o protagonista de “Chupim”, é um garoto que vive sua primeira experiência no campo ao ser acordado pelo pai para espantar as pragas de uma plantação de arroz. O nome “Chupim” faz referência a um pássaro conhecido por parasitar ninhos de outras aves e por ser uma praga nas plantações. Através da relação entre Julim e o chupim, Itamar constrói uma narrativa que não apenas retrata o cotidiano rural, mas também as desigualdades sociais e o impacto do trabalho infantil, temas abordados com sensibilidade e uma linguagem acessível ao público infantil.
Itamar Vieira Junior revela que a ideia de escrever “Chupim” surgiu a partir de uma passagem de “Torto Arado”, onde Bibiana, uma das personagens centrais, relembra suas memórias de infância. “Essa história já foi contada em ‘Torto Arado’ sob a perspectiva de uma mulher mais velha, a Bibiana, que está lembrando suas memórias de infância. E o desejo de retomar essa história, sob a perspectiva de uma criança, surgiu naturalmente”, explicou o escritor.
No livro, Julim encara sua primeira experiência no campo, uma mistura de trabalho e brincadeira, onde ele aprende sobre a realidade dos trabalhadores rurais e sua luta diária pela sobrevivência, refletida na constante batalha contra o chupim. “Julim é uma criança que desperta para o seu primeiro dia de trabalho ou de brincadeira na fazenda onde os pais trabalham. E ele vai espantar a praga. E assim ele vai conhecer o Chupim”, conta Itamar.
O lançamento de “Chupim” na Flipelô foi um momento especial, onde o autor compartilhou a importância de trazer temas como o trabalho infantil e as desigualdades sociais para a literatura infantil. “O livro traduz muito o universo do campo brasileiro”, afirmou, ressaltando a necessidade de abordar esses temas de forma lúdica, mas sem perder a profundidade e a conexão com a realidade.
Durante o lançamento, a obra de Itamar Vieira Junior foi complementada por uma performance artística ao vivo do grafiteiro Marcos Costa, conhecido como Spray Cabuloso, que pintou sua interpretação do chupim no Espaço Instituto CCR Mabel Velloso, na Flipelô. “Essa pintura aqui eu fiz inspirada no livro. Ele é um pássaro preto, mas vai ser extraterrestre também. Ele vai sair da Terra e estar no universo, em tons intergalácticos”, explicou Marcos, relacionando sua arte ao tema da Flipelô deste ano, que homenageia Raul Seixas.
Além disso, o grafite de Marcos Costa incorporou elementos da cultura afro-brasileira, como o ideograma adinkra chamado Sankofa, que simboliza a importância de conhecer nossas origens para entender quem somos e para onde vamos. “O grafite é uma forma de contar histórias. A gente faz aquela poesia através das imagens”, refletiu o artista, destacando a arte urbana como uma ferramenta poderosa de comunicação e integração social.
O evento também contou com a presença de Paloma Jorge Amado, filha do icônico escritor baiano Jorge Amado, que relançou seu livro “Pituco” na mesma ocasião. Curiosamente, tanto “Chupim” quanto “Pituco” têm passarinhos como tema central, o que Paloma considerou uma coincidência peculiar, típica da Bahia. “Meu pai diria que essas coincidências são coincidências da Bahia”, brincou Paloma, ao lado de Itamar.
“Pituco”, no entanto, não é uma obra infantil, mas uma homenagem ao centenário de Zélia Gattai Amado, mãe de Paloma e também uma importante figura na literatura brasileira. O livro retrata a história de um passarinho que viveu com a família Amado por 22 anos, sendo fotografado por Zélia durante todo esse período. “Quando foi no centenário de minha mãe, em 2016, eu resolvi homenageá-la, ilustrando, com texto, fotos dela”, contou Paloma.
Através de “Chupim”, Itamar Vieira Junior convida os pequenos leitores a explorar um universo muitas vezes distante da realidade urbana, mas repleto de significados e reflexões. “Para uma criança da cidade, ler ‘Chupim’ talvez a coloque no lugar dessa criança do campo, reconhecendo um universo diferente e entendendo que o arroz não nasce no supermercado”, refletiu Itamar, destacando o valor da literatura em conectar diferentes realidades e promover a empatia.
Com “Chupim”, Itamar consolida seu papel como um dos mais importantes escritores contemporâneos do Brasil, expandindo seu alcance ao público infantil e reforçando a importância de temas sociais na formação das novas gerações. A obra, além de ser uma leitura envolvente e educativa, é uma poderosa ferramenta para refletir sobre as desigualdades e os desafios enfrentados pelos trabalhadores rurais no Brasil, tudo isso através dos olhos curiosos e inocentes de uma criança.
Fonte: Agência Brasil