Em uma iniciativa sem precedentes, a Academia Brasileira de Ciências (ABC), situada no coração do Rio de Janeiro, se prepara para o lançamento do livro “Segurança Alimentar e Nutricional: O Papel da Ciência Brasileira no Combate à Fome” nesta quinta-feira (14). Esta publicação seminal, fruto do esforço colaborativo de 41 autores oriundos de 23 prestigiadas instituições de pesquisa nacionais, visa lançar luz sobre a problemática crescente da fome no Brasil. Mais do que um retrato do atual estado de insegurança alimentar exacerbado pela pandemia da COVID-19 e ameaçado pelas mudanças climáticas, o livro propõe uma abordagem multifacetada, onde a ciência atua como pilar central na construção de soluções duradouras.
A obra enfatiza a necessidade imperativa de cooperação interdisciplinar no mundo científico como meio de potencializar a produção alimentar, valorizando, sobretudo, o papel insubstituível da agricultura familiar no tecido produtivo do país. Esta sinergia, segundo os autores, deverá ser o alicerce para parcerias estratégicas entre o setor público, a iniciativa privada e as organizações do terceiro setor.
Mariangela Hungria, figura emblemática na diretoria da ABC e pesquisadora da Embrapa, que organizou a compilação, destaca o paradoxo brasileiro de ser um celeiro global capaz de alimentar 1 bilhão de pessoas, enquanto milhões de seus cidadãos enfrentam a fome diariamente. “A ciência tem um papel fundamental a desempenhar, contudo, a complexidade do problema demanda um esforço conjunto para sua resolução”, argumenta Mariangela. Ela apela pela unificação de esforços entre os diversos setores da sociedade para superar esse desafio multifatorial.
Apesar de o Brasil se posicionar como o quarto maior produtor de alimentos do planeta, a insegurança alimentar grave afeta mais de 33 milhões de brasileiros, segundo dados recentes da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional referentes aos anos de 2021 e 2022. Este estado de privação alimentar aguda evidencia a urgência de intervenções práticas e políticas públicas efetivas.
Dentre as soluções propostas, o livro sublinha a importância de investir em práticas de agricultura sustentável e regenerativa, prevenção de desastres ambientais, apoio incondicional aos pequenos produtores, políticas de renda mínima garantidora, e um robusto investimento em educação agrícola. Mariangela ressalta a vitalidade da agricultura familiar, que provê quase metade dos alimentos consumidos no país, e a necessidade premente de reinvestir na ciência e na extensão rural para equipar esses produtores com conhecimentos e técnicas avançadas, permitindo-lhes produzir mais com menos.
A obra “Segurança Alimentar e Nutricional” não só diagnostica os desafios atuais mas também pavimenta um caminho rumo a um futuro onde a fome seja um espectro do passado. Ela conclama a uma mobilização nacional e a uma ciência de dados robusta para conectar efetivamente aqueles em insegurança alimentar aos programas de assistência, marcando um passo decisivo na jornada do Brasil para erradicar a fome e garantir um direito fundamental a todos os seus cidadãos: o direito à alimentação.
Fonte: Agência Brasil