Uma iniciativa inovadora promete transformar a forma como o Brasil planeja e executa ações de restauração da vegetação nativa. A plataforma Ciera — sigla em inglês para Conservation International Ecosystem Restoration Assistant — é a nova aposta da organização não governamental Conservação Internacional (CI) para alavancar os esforços de reflorestamento no país. Utilizando inteligência artificial e recursos de machine learning, a ferramenta será disponibilizada gratuitamente no segundo semestre de 2025.
A proposta do Ciera é integrar informações complexas sobre custos, exigências legais, incentivos públicos e dados geoespaciais, para ajudar desde pequenos proprietários rurais até gestores públicos a tomarem decisões mais estratégicas sobre onde e como restaurar áreas degradadas.
“A Ciera tem como objetivo tornar a restauração mais pública, mais compartilhada, para que todo mundo possa se apropriar dessa tomada de decisão do melhor local para restaurar”, afirma Luciana Pugliese, diretora de Restauração de Paisagens e Florestas da CI Brasil.
Ferramenta com tecnologia e conhecimento integrados
A plataforma é fruto de uma colaboração entre especialistas brasileiros e norte-americanos da Conservação Internacional, com apoio de universidades e empresas de tecnologia. A inteligência artificial desenvolvida para o Ciera é capaz de interpretar e cruzar dados de diversas fontes — documentos oficiais, legislações, mapas, planos governamentais e dados ambientais — em tempo real.
Entre os principais marcos utilizados como base de dados está o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), lançado em outubro de 2024 durante a 16ª Conferência das Partes da ONU para a Biodiversidade (COP16), em Cali, na Colômbia. O plano estabelece como meta restaurar 12 milhões de hectares até 2030, compromisso assumido pelo Brasil em acordos multilaterais.
Atualmente, segundo o Observatório da Restauração e Reflorestamento, o Brasil possui 153,14 mil hectares de vegetação nativa recuperada e 8,76 milhões de hectares reflorestados. No entanto, ainda há um passivo ambiental significativo: cerca de 25 milhões de hectares precisam ser restaurados para que o país cumpra o que determina o Código Florestal (Lei 12.651/2012).
Análise inteligente para decisões assertivas
Com o Ciera, será possível identificar não só as áreas prioritárias para restauração, mas também as espécies indicadas para plantio, metodologias recomendadas, estimativas de custo e possíveis incentivos financeiros ou legais. A ferramenta também permitirá simulações específicas.
“Por exemplo, se um governo estadual tem interesse em restaurar áreas onde há maior número de propriedades com déficit de APP [Área de Preservação Permanente], o Ciera permite mapear essas regiões e indicar onde há maior viabilidade para ações coordenadas”, explica Luciana.
Esse potencial de análise qualificada é resultado do processo de machine learning, em que o sistema “aprende” conforme recebe mais dados e casos reais. Assim, quanto mais for utilizado em projetos e por diferentes usuários, mais eficaz se tornará. O objetivo é que a plataforma esteja constantemente se atualizando e aperfeiçoando com base em novas experiências e fontes de informação.
Reconhecimento internacional e lançamento em breve
O Ciera já demonstrou seu potencial em escala global. A ferramenta venceu recentemente o desafio internacional Hack4Good 3.0, realizado em Seattle, nos Estados Unidos. A competição é voltada para soluções tecnológicas com impacto social e ambiental, e reconheceu o Ciera como uma das inovações mais promissoras na área de conservação.
Com essa visibilidade e o apoio contínuo de especialistas, a expectativa é que a versão pública da plataforma esteja pronta e consolidada para lançamento em aproximadamente três meses. A ferramenta será acessível a qualquer interessado, desde produtores rurais até órgãos públicos e organizações não governamentais.
“Em pelo menos mais de três meses, a gente estará com isso tudo consolidado e disponível para ser aplicado por proprietários de terra ou tomadores de decisão, de uma forma geral”, conclui Luciana Pugliese.
Ao combinar tecnologia de ponta com conhecimento ambiental, a Conservação Internacional aposta na Ciera como uma aliada poderosa para acelerar a recuperação dos ecossistemas brasileiros e cumprir as metas de restauração que o país tanto precisa alcançar.
Fonte: Agência Brasil