A busca por novos fármacos no Brasil tem encontrado grande potencial no solo amazônico. Pesquisadores estão levando amostras coletadas em Belém (PA) para serem analisadas no Sirius, o maior acelerador de partículas da América do Sul, localizado em Campinas (SP). A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e a Universidade Federal do Pará (UFPA), e já começa a apresentar resultados promissores.
O estudo investiga a composição genética de bactérias encontradas no solo da Amazônia, especialmente das classes Actinomycetes e Bacilli, em busca de substâncias com potencial antibacteriano e antitumoral. As análises iniciais revelaram que muitas dessas bactérias possuem genes desconhecidos, sugerindo um vasto campo para a descoberta de novos compostos bioativos.
Sequenciamento genômico e biotecnologia avançada
Com o uso do sequenciador PromethION, da Oxford Nanopore, os cientistas conseguiram analisar com alta precisão a composição genética desses microrganismos. O processo permite identificar como os genes atuam na produção de enzimas e metabólitos especializados, que são a base de muitos medicamentos modernos.
“Mais de dois terços dos fármacos desenvolvidos no mundo têm origem em metabólitos naturais. Nosso objetivo é compreender como essas bactérias amazônicas produzem substâncias bioativas e como podemos aproveitá-las para criar novos medicamentos”, explica Daniela Trivella, coordenadora de Descoberta de Fármacos do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).
Amazônia como fonte de inovação
A pesquisa reforça a importância do bioma amazônico para a inovação médica. “Mesmo em organismos amplamente estudados, como Streptomyces, ainda encontramos compostos inexplorados no solo da Amazônia”, destaca Rafael Baraúna, pesquisador da UFPA e um dos coordenadores do estudo. A descoberta de novos compostos reforça o valor econômico e estratégico da biodiversidade brasileira.
O próximo passo é ampliar a produção dessas substâncias em laboratório. Utilizando a técnica de metabologenômica, os cientistas conseguiram transferir genes de bactérias selvagens para cepas de fácil cultivo, permitindo a produção em maior escala de compostos promissores. “Isso nos permite desenvolver novas moléculas por meio de biotecnologia, abrindo caminho para futuros tratamentos contra infecções e cânceres”, complementa Trivella.
Desafios e perspectivas
A velocidade com que novas substâncias podem ser testadas é um dos grandes avanços dessa metodologia. No LNBio, é possível realizar até 10 mil testes por dia, acelerando a identificação de compostos com potencial terapêutico. Entretanto, os avanços científicos correm contra a degradação ambiental. Em 2024, os índices de queimadas na Amazônia atingiram o maior número dos últimos 17 anos, ameaçando a perda irreversível de espécies com potencial farmacológico.
Com o apoio de projetos nacionais e investimentos de aproximadamente R$ 500 milhões nesta década, os cientistas esperam ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade amazônica e suas aplicações na medicina. O CNPEM, por meio da Plataforma de Descoberta de Fármacos, pretende levar os estudos a outras regiões da Amazônia, buscando novas descobertas e consolidando o Brasil como um líder global na biotecnologia aplicada à saúde.
Fonte: Agência Brasil