Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, uma das instituições musicais mais prestigiadas do Brasil, comemora 45 anos de existência em 2024. Para marcar essa data importante, o programa Caminhos da Reportagem entrevistou músicos que participaram dessa rica trajetória, compartilhando memórias e desafios enfrentados ao longo dos anos.
A Orquestra Sinfônica fez seu concerto inaugural em 6 de março de 1979, sob a batuta do maestro Claudio Santoro, um dos maiores compositores eruditos do Brasil com amplo reconhecimento internacional. Em 1978, Santoro foi convidado a fundar o Departamento de Música da Universidade de Brasília e a orquestra do Teatro Nacional. Para assumir essa missão, ele deixou o exílio na Alemanha, onde havia se refugiado durante a ditadura militar no Brasil.
Gisele Santoro, viúva do maestro, relembra que foi o idealismo de Santoro que os trouxe de volta ao Brasil. “Morávamos muito bem, ele ganhava muito bem, era super respeitado. Tinha uma carreira internacional pela Europa e eu também uma carreira de dança, escola de dança, fazia espetáculos. Ele deixou tudo isso para trás, porque viu a possibilidade de uma universidade nova em Brasília, de realmente implantar algo de alto nível”, conta Gisele. Beth Ernest Dias, flautista aposentada da orquestra, destaca a dedicação dos músicos nos primeiros anos para atender às exigências do maestro Santoro. “Ele nos fez tocar todas as sinfonias de Tchaikovsky, todas as sinfonias de Mozart, todas de Beethoven. Esse repertório de base faz com que uma orquestra construa sua própria sonoridade, algo intocável, porém muito valioso”, afirma Dias.
Clinaura Macêdo, violinista aposentada da OSTNCS, enfatiza o prestígio de Santoro e sua capacidade de atrair grandes nomes para tocar com a orquestra em Brasília. “Nesse período, ainda em 1979, a orquestra nascendo, Jacques Klein veio tocar conosco. Em 1980, veio Nelson Freire, um dos cinco pianistas mais importantes do mundo, e Jean-Pierre Rampal, o maior flautista do mundo. Além de três compositores de primeiro escalão do Brasil: Camargo Guarnieri, Guerra Peixe e Francisco Mignone”, recorda Macêdo. Santoro permaneceu à frente da orquestra até 1989, quando faleceu no palco durante um ensaio. Com sua morte, o teatro foi rebatizado como Teatro Nacional Claudio Santoro. Silvio Barbato, então um jovem maestro de 29 anos, assumiu a condução da orquestra. Barbato teve duas passagens como maestro, de 1989 a 1992 e de 1999 a 2006. Tragicamente, Barbato desapareceu em 2009 no voo 447 da Air France sobre o Oceano Atlântico.
Mirian Gomes, que trabalhou como coordenadora administrativa da orquestra no final dos anos 1980 e início dos 90, se emociona ao recordar a convivência com os dois maestros. “A convivência com o maestro Santoro foi maravilhosa. Trabalhar com uma pessoa do nível dele era como trabalhar com Beethoven. E o Silvio Barbato, com idade para ser meu filho, era uma pessoa doce. Esses anos foram os melhores da minha vida”, afirma Mirian. Ronaldo Gomes, marido de Mirian, registrou cerca de 120 apresentações da orquestra ao longo de sete anos. “É um registro histórico. Se eu não tivesse feito essas gravações, o que teríamos hoje? Vamos doar essas fitas para a orquestra como um arquivo. É uma memória valiosa”, diz Ronaldo. Cláudio Cohen, maestro da orquestra desde 2011, destaca a revitalização recente do arquivo musical da OSTNCS. “Contratamos uma equipe especializada para catalogar nosso material e o transportamos para a Biblioteca Nacional, onde será mais preservado e acessível ao público”, explica Cohen.
Um tema de unanimidade entre os músicos é o inconformismo com o fechamento do Teatro Nacional Claudio Santoro há mais de dez anos. O secretário de Cultura do DF, Cláudio Abrantes, explica que o local foi interditado pelo Ministério Público e pelo Corpo de Bombeiros em 2013, após a tragédia da boate Kiss, que reforçou a necessidade de cuidados com os equipamentos públicos.
Cohen luta pela revitalização do Teatro Nacional e pela construção de outros teatros na capital. “O Teatro Nacional está em reforma e esperamos voltar em breve. Em turnê pela China, vi teatros maravilhosos, mostrando o investimento cultural daquele país. Brasília não pode ficar para trás”, ressalta o maestro. A OSTNCS continua sendo um símbolo de excelência musical e cultural, refletindo o legado de Claudio Santoro e a paixão de seus músicos por manter viva a tradição da música clássica no Brasil.
Fonte: Agência Brasil