Aos 77 anos, Osmar Prado segue conquistando plateias Brasil afora com a peça O Veneno do Teatro, reafirmando sua trajetória brilhante no mundo artístico. O espetáculo, que já atraiu mais de 60 mil espectadores desde sua estreia em janeiro do ano passado, retorna ao Rio de Janeiro para uma terceira temporada. Dessa vez, a montagem será encenada no tradicional Teatro Municipal Carlos Gomes, na Praça Tiradentes, um dos palcos mais emblemáticos da cidade.
Aclamado por público e crítica, o ator soma mais de seis décadas de dedicação ao teatro, televisão e cinema. Em entrevista à Agência Brasil, ele relembrou sua trajetória e os desafios que enfrentou para se tornar um dos grandes nomes da dramaturgia nacional.
Um acidente do destino
Osmar Prado costuma se referir ao início de sua carreira como um “acidente”. Sua vocação para a arte surgiu ainda na infância, quando, aos 7 anos, questionou sua mãe sobre como se tornar artista. A resposta, no entanto, foi desencorajadora: “Meu filho, para ser artista, tem que ser bonito e alto”. A referência materna era Rodolfo Valentino, ícone do cinema das décadas de 1930 e 1940.
Apesar do ceticismo inicial da família, o ator encontrou apoio em sua tia, Trindade Augusta Prado, que o levou para um teste na casa do diretor Líbero Miguel. Na época, o cineasta procurava jovens atores para a adaptação televisiva de David Copperfield, de Charles Dickens, na TV Paulista. Osmar ganhou o papel de forma inusitada: ao realizar a cena, esbarrou em um cinzeiro e improvisou para corrigir o erro. O diretor, impressionado com sua naturalidade, decidiu escalá-lo para a produção.
Aos 12 anos, já interpretava Oliver Twist, também inspirado na obra de Dickens, e desde então nunca mais abandonou os palcos e as câmeras.
Aprendizado na prática e grandes mestres
Sem formação acadêmica em teatro, Osmar Prado aprendeu a atuar na prática, trabalhando ao lado de gigantes da dramaturgia brasileira. Sérgio Cardoso, Othon Bastos e Gianfrancesco Guarnieri foram algumas de suas principais influências. Seu talento foi reconhecido desde cedo. Em 1959, o crítico Miroel Silveira descreveu sua atuação na peça Nu, com Violino como “uma agradável revelação aos 12 anos”.
“Fui sendo levado pelo destino. Parece que era um caminho inexorável”, conta o ator. Ele também relembra sua origem humilde, nascido em uma casa simples no bairro Vila Clementino, em São Paulo, e criado em uma família de operários e funcionários públicos.
Retorno ao teatro e consagração
Após uma década longe dos palcos, Osmar Prado retornou com O Veneno do Teatro. Antes disso, sua última atuação teatral havia sido na comédia musical Barbaridade, mas ele conta que não se sentia completamente à vontade no projeto. Em 2022, ao interpretar o icônico Velho do Rio na novela Pantanal, da Rede Globo, conquistou um dos momentos mais marcantes de sua carreira, sendo premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como melhor ator.
O retorno ao teatro se deu pelo convite do diretor Eduardo Figueiredo, que viu no ator a essência ideal para protagonizar O Veneno do Teatro. No espetáculo, Osmar divide a cena com Maurício Machado, que descreve a experiência como um sonho realizado: “Sempre o admirei. Trabalhar com ele é uma honra e um aprendizado constante”, afirma.
O diretor Figueiredo destaca o comprometimento do ator, elogiando sua memória impecável e dedicação ao texto, considerado denso e desafiador. “Ele nunca errou uma fala, nem nos ensaios”, revela.
Reflexões sobre arte e sociedade
Ao longo da carreira, Osmar Prado transitou entre o teatro, a televisão e o cinema, sempre comprometido com sua arte e com as questões sociais. Em suas declarações, enfatiza a importância da cultura para a formação da sociedade e critica desigualdades estruturais. “O teatro sempre me acolheu e sempre acolherá aqueles que têm compromisso com a arte”, afirma.
Além de ser um artista consagrado, ele também se posiciona ativamente sobre temas contemporâneos, defendendo a democratização cultural e a multipolaridade no cenário mundial. “Abaixo os impérios. Que venha a democracia plena”, declara.
O ator segue em turnê com O Veneno do Teatro, reafirmando sua paixão pelo ofício e sua inabalável dedicação à arte.
Fonte: Agência Brasil