Com o final do ano e as tradicionais festas e celebrações, os níveis de barulho aumentam significativamente, trazendo preocupações para especialistas. A poluição sonora, frequentemente ignorada, pode causar danos sérios à saúde, incluindo perda auditiva e problemas psicológicos. Mesmo exposições eventuais a níveis elevados de som, como os gerados por fogos de artifício e música alta, podem ter consequências permanentes.
A professora Karla Vasconcelos, da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que a poluição sonora é um problema crescente. “Nessa época, as pessoas associam diversão à música alta, sem perceberem que isso pode prejudicar sua saúde auditiva e o sossego alheio. O zumbido persistente, por exemplo, é um dos sintomas mais comuns após a exposição prolongada a ruídos intensos”, destaca.
Segundo Vasconcelos, os prejuízos da poluição sonora vão além da audição. “O estresse causado pelo excesso de som pode desencadear irritabilidade, distúrbios do sono e doenças cardiovasculares. É uma questão de saúde pública”, enfatiza.
Rafael Andrade, coordenador do Comitê de Acústica Ambiental da ProAcústica, reforça que a poluição sonora muitas vezes é negligenciada. “O ruído não deixa marcas visíveis, o que faz com que o tema seja tratado como secundário. No entanto, os impactos fisiológicos e psicológicos são sérios, especialmente em crianças em idade escolar, prejudicando o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo”, explica.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que ruídos acima de 75 decibéis são prejudiciais, e exposições prolongadas a sons acima de 85 decibéis podem causar danos auditivos permanentes. “Fogos de artifício e shows frequentemente ultrapassam 120 decibéis, causando danos irreversíveis às células auditivas, que não se regeneram”, alerta Vasconcelos.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, cerca de 2,3 milhões de brasileiros têm algum grau de deficiência auditiva. A exposição repetida a ruídos intensos é um dos principais fatores.
Para reduzir os riscos, especialistas sugerem:
- Evitar exposição prolongada a sons altos.
- Utilizar protetores auriculares em shows e festas.
- Controlar o volume de fones de ouvido.
- Promover o silêncio em ambientes de descanso.
“Para festas em casa, priorize volumes moderados. Além de evitar problemas auditivos, você minimiza conflitos com vizinhos e melhora a qualidade da comunicação entre os convidados”, orienta Andrade.
No Brasil, perturbação do sossego é prevista como contravenção penal e pode levar à prisão de até três meses. Além disso, a Lei de Crimes Ambientais prevê pena de um a quatro anos para casos de poluição que prejudique a saúde humana.
O Ministério da Saúde também alerta para o uso consciente de sons recreativos, destacando seis medidas recomendadas pela OMS para audição segura: limitar o som a 100 decibéis, monitorar os níveis de som, melhorar a acústica dos espaços, disponibilizar protetores auriculares, criar áreas de silêncio e oferecer informações educativas.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece cuidado integral e gratuito em saúde auditiva, desde a prevenção até a reabilitação com próteses auditivas e terapias especializadas.
A conscientização sobre os riscos do barulho excessivo é essencial para que a população possa aproveitar as festas com segurança e saúde. “Com pequenas mudanças de comportamento, é possível reduzir significativamente os danos causados pelo som elevado”, conclui Vasconcelos.
Fonte: Agência Brasil