Professores de Matemática do ensino médio de todo o Brasil já podem se inscrever na segunda edição da Olimpíada de Professores de Matemática (OPMBr). A competição tem como objetivo avaliar práticas pedagógicas e conhecimento didático, reconhecendo os dez melhores docentes com a premiação máxima: uma viagem a Xangai, na China, para formação e intercâmbio cultural em instituições de ensino locais. As inscrições foram abertas em 1º de março.
A OPMBr surgiu a partir de uma iniciativa de ex-alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), turma de 1989, preocupados com os baixos índices de aprendizado da disciplina no Brasil. Apesar de estar entre os países da elite mundial da Matemática, segundo a Internacional Mathematical Union (IMU), o Brasil amarga um desempenho fraco em exames como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). No ranking mais recente, o país ocupa a 65ª posição entre 81 nações avaliadas.
Os professores inscritos nesta edição passarão por uma avaliação online em junho. Os classificados deverão enviar um vídeo demonstrando suas práticas em sala de aula, destacando metodologias inovadoras e impactos no aprendizado dos alunos. A terceira etapa, que envolve entrevistas conduzidas pelo Conselho Acadêmico da competição, ocorrerá em setembro. Os vencedores serão anunciados em novembro e participarão do intercâmbio em abril de 2026.
A professora Jaqueline Mesquita, integrante do Conselho Acadêmico da Olimpíada e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, destaca que a competição não avalia apenas o conteúdo matemático, mas também a forma como ele é transmitido aos alunos.
“O professor precisa ter o chamado ‘conhecimento pedagógico de conteúdo’, que é a habilidade de conectar o saber matemático com métodos eficazes de ensino em sala de aula. Esse foi o diferencial dos vencedores da última edição”, explica Mesquita.
Um aspecto que chamou a atenção dos organizadores foi o grande número de premiados vindos de cidades do interior, em contraste com a expectativa de que os melhores desempenhos viessem de grandes centros urbanos. Para Mesquita, os dados levantados pela competição podem ajudar a mapear desigualdades regionais na educação e embasar políticas públicas voltadas para o ensino da Matemática.
Histórias de sucesso
Rubens Lopes Netto, professor do Piauí, foi um dos vencedores da edição anterior da OPMBr. Sua relação com a Matemática começou ainda na infância, quando seu pai o incentivava a explorar a disciplina no cotidiano. Mais tarde, ele iniciou sua carreira docente em escolas rurais, enfrentando desafios como a falta de recursos e infraestrutura.
“A prática vai evoluindo conforme a interação com os alunos. Dependendo das respostas deles, ajustamos nossas abordagens e aprimoramos as estratégias de ensino a cada aula”, conta Lopes.
Após anos lecionando no ensino médio, Rubens avançou na carreira acadêmica e hoje está prestes a concluir um doutorado. Atualmente, dedica-se à formação de novos professores no Maranhão. Segundo ele, a conquista da medalha de ouro na OPMBr veio do reconhecimento de seu trabalho na melhoria do desempenho de estudantes das redes pública estadual e municipal em Mata Roma e Anapurus, cidades maranhenses.
“No Saeb e no Seama, nossas escolas alcançaram as melhores médias de proficiência do município. Esse resultado foi decisivo para minha premiação”, afirma o professor.
Experiência na China
Como parte do prêmio, Rubens visitou quatro escolas chinesas e descreve a experiência como transformadora. Para ele, a formação docente na China se destaca pelo modelo de aprendizagem colaborativa entre professores e pelo compromisso dos estudantes com a Matemática e as Ciências.
“Os professores chineses têm uma cultura forte de formação continuada e troca de conhecimento com colegas da mesma área. Além disso, os alunos compreendem a importância da disciplina e como ela pode abrir portas no futuro”, relata.
De volta ao Brasil, Rubens agora compartilha seus aprendizados com outros professores, promovendo seminários no Maranhão para disseminar as boas práticas observadas durante o intercâmbio.
“Nosso objetivo é estimular uma mudança de mentalidade e atitude entre os docentes. Algumas adaptações podem ser implementadas a curto prazo, mas outras exigirão uma transformação estrutural e cultural mais profunda”, conclui.
Fonte: Agência Brasil