A casa da tia Sandra foi um refúgio e uma inspiração para o pequeno Thiago Santos, então morador de uma favela em Abreu e Lima, Pernambuco. O banheiro e a estrutura da casa eram símbolos de dignidade e progresso para o garoto, que cresceu com o sonho de se tornar professor e proporcionar uma vida melhor para outros. Décadas depois, Thiago é doutor em educação e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), formando novos docentes e defendendo a importância da valorização da carreira docente.
Essa valorização, no entanto, ainda é um desafio no Brasil. Para Thiago, o recém-lançado programa Mais Professores, do governo federal, surge como uma esperança para reverter o cenário de desinteresse pela profissão e atrair novos talentos para o magistério. “Já vi muita gente desistindo da carreira por falta de condições adequadas”, lamenta o professor.
Propostas e Recursos do Programa
O programa Mais Professores apresenta um conjunto de medidas para atrair e reter talentos na área da educação. Entre as principais ações estão:
- Prova Nacional Docente (PND): exame anual para seleção de novos professores;
- Pé-de-Meia Licenciaturas: auxílio financeiro de R$ 1.050 mensais para estudantes de licenciatura, com parte do valor direcionado a uma poupança;
- Valorização da carreira: fortalecimento de parcerias entre o Ministério da Educação (MEC) e universidades, além de incentivos para estados e municípios.
Para Thiago, a alocação de recursos aos estudantes de licenciatura é um acerto. “Pessoas com boas notas no Enem terão o suporte necessário para se dedicar integralmente à formação”, avalia. O programa também prevê apoio financeiro até a conclusão do curso, algo essencial para reduzir a evasão.
Desafios Estruturais e Desvalorização
Apesar do otimismo, Thiago e outros especialistas apontam obstáculos significativos para a efetividade do programa. Entre eles estão o descumprimento do piso salarial do magistério, a ausência de planos de carreira atrativos e a precariedade dos contratos de trabalho.
“A carreira docente não é vista como vantajosa porque não oferece qualidade de vida comparável a outras profissões”, explica o professor. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) reforça a necessidade de condicionar repasses federais à adesão dos estados e municípios às políticas de valorização docente, como a implementação do piso salarial e o fortalecimento da formação continuada.
Dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o Brasil investe cerca de R$ 17,7 mil anuais por aluno na educação básica, enquanto países como Luxemburgo chegam a investir mais de R$ 150 mil. Essa disparidade se reflete nos salários e na qualidade do ensino, colocando o país entre os piores colocados no ranking de remuneração de professores da educação básica.
Inspiração e Transformação em Sala de Aula
Thiago Santos, com sua trajetória de superação, simboliza o impacto que um professor pode ter na vida de seus alunos. Ao optar pela licenciatura, ele enfrentou o preconceito de colegas e a falta de valorização da carreira, mas permaneceu firme em seu objetivo.
Hoje, ele vê no programa Mais Professores uma oportunidade de transformação, tanto para os futuros docentes quanto para a sociedade como um todo. “A educação é o principal caminho para a mudança. Precisamos que os governos, em todas as esferas, entendam isso e valorizem quem está na linha de frente”, afirma.
Para Thiago, a figura de sua mãe, que retomou os estudos para ajudar os filhos, e da tia professora, que proporcionou dignidade à família, são exemplos do poder transformador da educação. “Através dessa profissão, podemos fazer muito pelo país e por nossas comunidades”, conclui.
Fonte: Agência Brasil